13/12/2017 às 18:24 - Atualizado em 13/12/2017 às 18:33
O Pleno do Tribunal de Justiça da Paraíba condenou, por estelionato, o
defensor público Admilson Villarim Filho, acusado de, no exercício de suas
funções e valendo-se do cargo, ter ludibriado Genival Dantas e Josefa Granjeiro
(já falecida) a venderem um terreno e um automóvel relativos ao processo de
inventário do filho do casal, e de se apropriar de quantias, sob os argumentos
de serviços prestados e depósito em Juízo. O réu foi condenado a três anos e
quatro meses de reclusão, em regime semi-aberto e a perda do cargo, após o
esgotamento da fase recursal na instância originária do TJPB, isto é, após o
julgamento de possíveis embargos declaratórios.
O julgamento da Notícia-Crime nº 2003316-08.2014.815.0000 ocorreu nesta
quarta-feira (13), com relatoria o desembargador Márcio Murilo da Cunha Ramos,
que julgou parcialmente procedente o pedido do Ministério Público.
De acordo com o relatório, Admilson Villarim Filho ingressou com uma
Ação de Inventário destinada à partilha dos bens deixados por ocasião do
falecimento de Adailton Granjeiro Dantas. O pai do falecido, Genival Dantas
Barbosa, foi nomeado como inventariante.
O acusado então orientou Genival a vender os bens que deveriam ser
partilhados entre os três filhos, sendo duas casas, um pequeno quarto
construído em um terreno e um automóvel, o que ocorreu em parte.
A primeira venda (terreno com o quarto) ocorreu em maio de 2011, pelo
valor de R$ 6 mil, e foi efetivada com intermédio do acusado na Sala destinada
à Defensoria Pública, no Fórum Affonso Campos, em Campina Grande. Ao final,
Admilson pediu a quantia de R$ 200,00 à esposa de Genival pelo serviço
prestado.
No mês seguinte, Admilson passou a procurar Genival Dantas e Josefa
Granjeiro na residência deles, perguntando pelo restante da venda dos imóveis,
sob a justificativa de que não poderiam depositar nas contas pessoais dos herdeiros,
pois o juiz da causa havia solicitado a verba. Na ocasião, teria recebido das
mãos de Josefa a quantia de R$ 4.500,00.
Após a venda do automóvel, Admilson Villarim passou a exigir a entrega
de determinada quantia, sob a justificativa de que teria que entregá-la ao
juiz, recebendo, então, R$ 2.500,00 de Josefa Granjeiro.
Além desses valores, Admilson também pediu ao casal outras pequenas
quantias, que totalizaram R$ 2 mil, destinados a supostos pagamentos de
impostos, certidões, escrituras de bens, os quais teriam sido determinados pelo
juiz da causa.
Genival Dantas compareceu em Juízo para prestar compromisso de
inventariante e, achando estranho o ocorrido, relatou os acontecimentos. A
autoridade judiciária determinou que o acusado depositasse em Juízo a quantia
que obteve ilicitamente, no prazo de 72 horas, o que não foi atendido.
Após o exame dos fatos, o relator afirmou, no voto, que a conduta
objetivou um lucro indevido em decorrência de engano provocado na vítima, a
qual contribuiu para a finalidade delitiva, sem notar que estava sendo lesada.
O desembargador também afirmou que, em relação à venda do terreno, a
materialidade e a autoria estão constatadas nas declarações das vítimas e
depoimentos das testemunhas, além do compromisso de compra e venda do terreno,
celebrado entre Josefa Granjeiro e o comprador.
“As declarações dos ofendidos, aliadas aos demais elementos de prova
coligidos aos autos, no caso em tese, prevalecem sobre a negativa do agente,
sendo suficiente para a condenação do réu pela prática do crime de estelionato
em discussão, face a própria dinâmica do crime e o fato de ter sido praticado
na clandestinidade”, argumentou, apontando, também, que o agente público agiu
com dolo, ao enganar as vítimas e receber valores indevidos, que não foram
revertidos a quem de direito.
Já sobre a venda do carro, o magistrado expôs que o acervo probatório
não é suficiente para justificar a condenação, pois não há, nos autos,
elementos que comprovem a existência do bem, sua alienação, nem sequer nome de
suposto comprador, assim como não há comprovação acerca das verbas destinadas
aos pagamentos de impostos, certidões e escritura.
Para o relator, as circunstâncias são consideradas negativas, uma vez
que o delito foi cometido durante processo judicial, em que vítimas estavam
sendo assistidas pelo réu, defensor público, confiantes de que ele estaria ali
para proteger os seus interesses, além de que o fato gerou um desfalque
financeiro em uma família necessitada.
Além disso, o relator pontuou que o acusado é reincidente e possui maus
antecedentes criminais, com três sentenças penais condenatórias. “O acusado
violou o dever com a administração, pois, valendo-se do cargo de defensor
público, agiu de forma contrária à ética e à moralidade, maculando a imagem da
Defensoria Pública estadual”, defendeu o relator.
Por Gabriela Parente
http://www.tjpb.jus.br/pleno-condena-defensor-publico-a-prisao-e-perda-de-cargo-por-crime-de-estelionato/
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